quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Razão e Sensibilidade - por Adjair Alves

“Muitas vezes a alma é um campo de batalha, no qual a razão e o discernimento travam uma guerra contra a paixão e os apetites.”

– Khail Gibran.

“Se a paixão o conduz, que a Razão segure as rédeas.”

– Benjamim Franklin.

“Controle suas emoções, senão ela arruinará sua Razão.”

– Conon Doyle.


Quem não já disse ou ouviu de alguém: “você é racional demais” ou “controle suas emoções”. Quem de nós, não já se sentiu em situações em que perdemos o controle e agimos de modo a se arrepender mais tarde. Ou fomos tão calculistas, frios, extremamente racionais.

Seria possível (Razão e Emoção) conviverem pacificamente?

A cultura humana aprendeu o princípio de que “Razão e Paixão” competem incessantemente na alma humana. Não podemos querer achar que a paixão seja uma coisa negativa enquanto a razão, positiva. A Razão aparece na cultura Ocidental, em geral como associada à masculinidade, enquanto a Emoção, à feminilidade.

O conceito de “Razão” aqui, não significa “operar logicamente”, no sentido Aristotélico do “Organon”, mas refere-se à capacidade humana de ser racional, “Razão”, de origem Grega “ratio”, que quer dizer “equilíbrio”. Isto significa entender ativamente as circunstâncias e usar o entendimento para manter o equilíbrio, em vez de ser passivamente varrido pelas circunstâncias e arrastado pelas emoções.

Do mesmo modo, o conceito de “Paixão”, não quer dizer amor apaixonado, mas “emoções” e “desejos” herdados como bem cultural, tais como: apetites e aversões.

Os Antigos Filósofos gregos entendiam que estas duas faculdades humanas, precisam ser cultivadas como constituintes do caráter humano. Isto é, a Razão deve ser aperfeiçoada, enquanto a paixão, amadurecida.

A Sabedoria Hindu extraída da “Bhagavad Gita” e dos “Upanishades” afirma ser, a luta humana mais básica, não a busca pela sobrevivência, mas a tentativa de dominar nossas paixões, desejos e anseios interiores. De acordo com esta Sabedoria é preciso conter estes impulsos, restringi-los pela “razão prática”, expressa-los por hábitos saudáveis ou transcendidos pelo despertar consciente, para assim evitar os sofrimentos.

A Sabedoria milenar humana confirma se a “razão” e não a “paixão” a origem das virtudes humanas. A paixão é concebida, quase sempre, como origem dos vícios. Mas isto não significa ser, a paixão, a única responsável pelas pulsões negativas.

Os Cabalistas judaicos, os Gnósticos cristãos, os Sufis islâmicos, os Brâmanes hinduístas, os despertados pelo budismo, desenvolveram caminhos de como conduzir de forma sensata as próprias paixões.

A “Jihad” Islâmica tem seu sentido no domínio das paixões e não na “guerra santa” contra os “não-Muçulmanos”. Do mesmo modo o “Nirvana” significa um resfriamento das paixões como forma de se liberar do “mal-estar”. Como dizia Lao-Tsé: “quem vence os outros é poderoso; quem vence a si mesmo é Sábio.”

Se tomarmos como ponto de partida o discurso das origens humanas, seja do “Gênesis”, seja da “Teoria da Evolução”, vamos encontrar um ser humano negativizado. No Gênesis, pelo “pecado original”, na Teoria da evolução, pela irracionalidade original. Seja na linguagem Cristã, seja na linguagem da Teoria Científica, o combate as paixões constitui uma luta sem fim, e isto se dá, porque a manutenção da própria vida está associada à satisfação regular do corpo. Um corpo equilibrado, não significa erradicar as paixões, mas controlá-las, canaliza-las para uma vida saudável, sem prejuízos.

Algumas vezes, entregar-se às paixões é um sinal de força, potencialidade, normalidade. Assim se compreende a atitude de uma mãe que se sacrifica pelo filho, ou alguns profissionais que arriscam suas vidas para salvar estranhos, como é o caso dos bombeiros, ou militares em guerra.

Uma paixão pode ser boa ou má, salvar vidas ou mata-las. Interpretamos assim muitas das ações humanas terroristas suicidas, ou de maus policiais que abusando do poder do Estado e da Lei, torturam e matam seres humanos indevidamente. Não podemos relegar todo mal praticado pelos humanos às suas paixões. A “razão” também pode ser causa de destruição, temos como exemplo as guerras e conflitos políticos. Assim a grande meta humana deve ser equilibrar estas duas potencialidades humanas.

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